domingo, 7 de junho de 2015

Anestesia

Acordo, visto a roupa, vou ao banheiro, tomo o café, entro no carro.
Pego o ônibus, cumprimento o motorista, durmo no ônibus, chego na escola.
Assisto às aulas, anoto tudo com cuidado, falo com colegas de sala.
Faço os trabalhos de escola, estudo, vou ao ballet, ensaio, aula.
Talvez seja o único momento que me sinta viva.
Que seja capaz de perceber como o mundo é maravilhoso e como existem mil possibilidades.
Jogo, leio, pinto, me alongo, vejo séries.
Preencho o novo tempo livre fazendo coisas que sempre gostei.
Aliás é estranho ter tanto tempo livre.
Já me livrei da maioria dos objetos que causam lembranças.
Como se isso adiantasse alguma coisa.
Muitas perguntas, muitas dúvidas.
Mas não sei se quero respostas.
Acho que gostaria de certezas, mas certezas não existem.

Volto ao plano original.
Andar sozinha, ler sozinha.
Até o dia em que alguém vai falar que adora o livro que estou lendo.
Vai me falar de um filme que amou e vamos conversar sem notar a passagem do tempo.
Facebook, whatsapp e aquela vontade de continuar conversando.
Descobrir novas manias, novos lugares, novos sabores.
Nem notar que alguém virou meu assunto favorito.
Fecho os olhos e me imagino tomando um frapuccino de caramelo na minha cafeteria favorita.


Mas o que faço se ainda não consigo sair sozinha?
Se tudo que tenho feito são as coisas que sempre gostei no aconchego do meu sofá?
Se o mundo lá fora não parece interessante?
Acho que preciso esperar a metamorfose.
E talvez voltar a sentir o mundo com todos os poros de novo.