segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Todas as Teorias

Se o filme é Capitu, o livro é Bentinho.



Existem diversas definições de arte, uma das mais interessantes é que arte é tudo aquilo capaz de provocar reações a quem é exposto a ela. Talvez não todos os tipos de reações.
Aliás,  objetos que são um fim em si mesmos e não provocam reações significativas também costumam ser chamados de entretenimento.

Falando nisso...,
Qual o limite entre a arte e o entretenimento?

Stephen Hawking é ateu convicto e acredita que "Deus não joga dados com o Universo".
Ironicamente a ciência é incapaz de fornecer uma explicação para a sobrevivência de vida dele.

A Teoria de Tudo é um livro fascinante, a melhor parte é que ele se mostra uma obra de arte excepcional segundo aquele conceito pois levanta tantos questionamentos em tantas esferas que deve ser degustado e digerido lentamente, caso contrário pode-se perder diversas nuances.

Falar da capacidade de superação do professor Hawking seria nada mais que um clichê...

(a propósito um clichê que a Academia de Cinema ama e que proporcionou o Oscar de melhor ator a Eddie Redmayne, falando em clichê também podemos citar a romantização do personagem principal e o clássico primeiro encontro no baile da faculdade)

...então que tal falar sobre outras questões interessantes sobre o protagonista?

A incapacitação física torna o ser humano mais frágil ou a habilidade de lidar com a deficiência o torna mais resistente?
A longevidade de Stephen seria a prova de que a mente pode triunfar sobre o corpo e/ou que a religião pode sobrepujar a ciência?

Uma ironia: mesmo com 73 anos o cientista não mostra o menor sinal de diminuição em suas capacidades mentais, ao contrário de sua condição motora.

Tal como o filme, falamos até agora do que concerne ao professor, mas tal como o livro podemos analisar os acontecimentos da perspectiva de Jane:

(aliás Jane Wilde Hawking possui um PhD, fato desnecessariamente omitido)

O quanto é saudável ou não dedicar sua vida inteira ao bem-estar e sucesso de outra pessoa obtendo em troca pouco ou nenhum reconhecimento?
Até que ponto uma pessoa é socialmente obrigada a cuidar de outra?
O sentimento de culpa mesmo quando racionalmente injustificado pode levar alguém à insanidade?


Em tempos de redes sociais o limite entre vida pública e privada tem se tornado cada vez mais difícil de estabelecer, por outro lado, durante uma considerável parte da vida do casal existia um grande esforço para esconder as dificuldades físicas e financeiras passadas pela família.

Se a situação da ELA (aquela do desafio do balde de gelo) fosse melhor conhecida na época, os Hawking teriam mais apoio? Ou comover a opinião pública diminuiria o mérito do cientista?
Ou ainda, o quanto as doenças degenerativas ainda são desconhecidas?

Os espaços públicos estão preparados para receber o indivíduo com qualquer tipo de deficiência?
Se imagine de muleta (por exemplo) enfrentando sua semana de aulas na Politécnica.
Todos os prédios têm rampas e elevadores e banheiros adaptados?
Seus locais de aula são próximos um do outro?
As pessoas estariam dispostas a auxiliar?
Você se sentiria diminuído por depender de ajuda?


Além de todos esses questionamentos existe toda uma abordagem do trabalho de Stephen feita por Jane (uma pessoa sem nenhuma formação em exatas), não se espante em reconhecer termos das aulas de Física do biênio, e de uma maneira interessante!

A grande (e mais sentimental) pergunta que restará ao ler e assistir A Teoria de Tudo é:
Qual sentimento era maior: o de Jane por Stephen ou de Stephen pela Física?




PS: Se você gosta de música clássica ou instrumental precisa ouvir a trilha sonora do filme! Principalmente as músicas: The Theory of Everything; Cambridge, 1963; Cavendish Lab; The Whirling Ways of Stars That Pass; Epilogue; The Origins of Time e The Wedding.
(Na verdade é melhor ouvir todas porque são fantásticas!

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